Main Article Content

Resumo

As Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são unidades complexas, destinadas ao atendimento de pacientes graves, que demandam espaço físico específico, recursos humanos especializados e instrumentais tecnológicos avançados, que as tornam um ambiente de alta complexidade (MARUITI; GALDEANO, 2007). Sua estrutura física associada às condições dos pacientes, normalmente críticas, e a intensa atividade da equipe multidisciplinar, fazem com que a população considere essa unidade um ambiente hostil. Dentre os fatores presentes no ambiente de alta complexidade que geram estresse na equipe, destacam-se: o pouco preparo para lidar com a constante presença de mortes, as frequentes situações de emergência, a falta de profissionais e de materiais, o ruído constante das aparelhagens, o despreparo para lidar com as frequentes mudanças no arsenal tecnológico, o sofrimento dos familiares, o conflito no relacionamento, dentre outros. Neste aspecto, a disciplina de Psicologia tem desempenhado um importante papel em alguns cursos universitários de saúde. Um dos propósitos desta aplicação da psicologia é preparar os alunos para o enfrentamento de diversas situações, assumindo um espírito crítico e equilíbrio emocional frente às mesmas. (SCARINCLA et al., 1989). Sendo assim, o objetivo deste estudo é avaliar o perfil da disciplina Psicologia Aplicada à Enfermagem, refletindo sobre o legado desta para a atuação destes profissionais na UTI. O presente estudo contou com um questionário aberto elaborado com a finalidade de levantar dados sobre o perfil da disciplina Psicologia da Saúde quando da formação de um profissional de Enfermagem já graduado e inserido no mercado. As perguntas buscavam avaliar de que maneira os conteúdos vistos na referida disciplina eram de fato aplicáveis ao cotidiano da prática da Enfermagem. A entrevista se deu com uma enfermeira, que atua na área há 5 anos no segmento público do município de Campos dos Goytacazes, na Unidade de Terapia Intensiva. A pesquisa fora realizada no ambiente hospitalar, no mês de setembro de 2014. Os resultados obtidos durante a entrevista indicaram que a essência da disciplina estava relacionada mais a questões éticas e com pouca fundamentação teórica. Em função desta experiência, a enfermeira L.S.P afirmou que utiliza muito pouco dos recursos da Psicologia no seu setor de trabalho gerando hoje um prejuízo. Ressalta que a sobrecarga laboral associada ao grande fluxo de procedimentos, responsabilidades, estresses, cansaço físico, cansaço mental e dificuldades no relacionamento interpessoal impedem que os profissionais de enfermagem estejam mais próximos do paciente. L.S.P relatou  destacou também as inúmeras questões emocionais dos pacientes, como os casos  depressivos pela solidão, tempo de permanência prolongada e dependência dos serviços profissionais. Fatores como medo, sentimentos de negação dos familiares e cuidadores constituem-se desafios diários da atuação em UTI, acredita a enfermeira. Afirma ainda que os conhecimentos obtidos durante a formação do profissional de enfermagem poderiam e deveriam auxiliar a sua atuação no setor de trabalho, todavia, destaca que a maior dificuldade ainda é separar o lado profissional do pessoal. A entrevista apontou-nos para uma necessidade de rever a maneira como as questões emocionais tão presentes no cotidiano dos cuidados em saúde podem ser trabalhadas por ocasião da formação dos futuros enfermeiros. Identificamos um pequeno aproveitamento da disciplina na ocasião da formação, mas uma grande e urgente demanda da aplicação da Psicologia aos cuidados prestados e no suporte dos profissionais. Acreditamos que uma maior carga horária para a referida disciplina, uma reavaliação por parte dos docentes acerca dos conteúdos e embasamentos propostos, bem como a utilização de metodologias vivenciais de ensino, poderiam favorecer um ampliar das possibilidades de reflexão acerca de temas pertinentes.

Palavras-chave: Enfermagem, UTI, Psicologia da Saúde, Psicologia, Ensino.

Article Details

Como Citar
R.S., G., T.R., S., & E.H., R.-A. (2015). O LEGADO DO ENSINO DA PSICOLOGIA NOS CURSOS DE ENFERMAGEM: UM ESTUDO SOBRE OS CUIDADOS DE ENFERMAGEM NAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA. Biológicas & Saúde, 5(18). https://doi.org/10.25242/88685182015797
Share |